quarta-feira, 19 de novembro de 2008

5 TEORIA DA AUTOPOIESE

SEGUNDA PARTE
O DESENHO DA AVICENNIA ÀS ECONOMIAS NACIONAIS
Maturana e Garcia (1997) apresentam a dificuldade que se estabeleceu desde os primórdios da Biologia em tratar da autonomia dos seres vivos. E afirmam ainda, que este fora o principal problema posto aos homens. No entanto, observar o fenômeno biológico como um todo, de forma sistêmica tem sido um problema rejeitado por grande parte dos cientistas. Neste contexto partem então, de um problema, a saber, descobrir o que possui comum a todos os seres vivos que possa permitir qualificá-los como tais. Desta forma, seu objetivo geral consiste em indicar a natureza da organização dos sistemas vivos em relação a seu caráter de unidade.
Maturana e Garcia (1997) no âmbito metodológico alertam que apesar de usarem recursos mecanicistas seu enfoque é sistêmico, o que vale dizer, que estes não tratam das propriedades dos elementos, de sua constituição básica, mas sim de relações, de processos, de relações entre processos e de leis que regulam estes processos, realizados pelos componentes. Possuem como hipótese de estudo a existência de uma organização comum a todos os seres vivos, de tal forma que quando começa a vida o que começa é esta organização, explicando estes, os seres vivos, em termos de uma organização, de relações entre componentes. Sendo assim, para tratarem desta organização comum a todos os sistemas vivos partem do conceito de máquinas, diferenciando estas entre alopoiéticas e autopoiéticas, onde máquinas “são consideradas comumente como sistemas materiais definidos pela natureza de seus componentes e pelo objetivo que cumprem em seu operar como artefatos de fabricação humana” (MATURANA E GARCIA, 1997, p. 69)
Máquinas são unidades e “são formadas de componentes caracterizados por determinadas propriedades capazes de satisfazer determinadas relações que determinam na unidade as interações e transformações desses mesmos componentes” (MATURANA E GARCIA, 1997, p. 69). De tal forma que, a natureza concreta dos componentes não interessa, bem como as propriedades dos componentes, exceto aquelas propriedades que interferem no conjunto de interações e transformações dentro do sistema.
As máquinas que o homem fabrica possuem um objetivo prático ou não, especificado pelo próprio homem, já a respeito das máquinas viventes Maturana e Garcia (1997) as classifica entre máquinas autopoiéticas e sistemas viventes. Desta forma, para os autores os organismos vivos são vistos como uma máquina.
A respeito das máquinas autopoiéticas Maturana e Garcia (1997) as difere de um sistema aberto. As principais características destas máquinas se configuram por serem autopoiéticas, onde estas mantêm suas variáveis constantes dentro de um limite de valores, o processo ocorre dentro de um intervalo de limites que a própria organização do sistema especifica, quer dizer não são especificadas pelo homem. Sendo assim, são homeostáticos, toda retro-alimentação ocorre no interior a elas, desta forma não recorrem ao meio para manter sua organização.
Maturana e Garcia (1997, p.71) definem as máquinas autopoiéticas como:

Uma máquina organizada como um sistema de processos de produção de componentes concatenados de tal maneira que produzem componentes que: I) geram os processos (relações) de produção que os produzem através de suas contínuas interações e transformações, e II) constituem à máquina como uma unidade no espaço físico. Por conseguinte, uma máquina autopoiética continuamente especifica e produz sua própria organização através da produção de seus componentes, sob condições de contínua perturbação e compensação dessas perturbações (produção de componentes).

Máquinas autopoiéticas se caracterizam por serem homeostáticas, especificam e produzem sua própria organização, através da produção de seus componentes. Segundo Maturana e Garcia (1997, p. 71) “uma máquina autopoiética é um sistema homeostático que tem sua própria organização como variável que mantêm constante.” E ainda, de acordo com Maturana e Garcia (1997, p.71) “para que uma máquina seja autopoiética é necessário que as relações de produção que a definem sejam continuamente regeradas pelos componentes que produzem”. Sendo assim os componentes devem estar concatenados para serem tidos como uma máquina, devendo existir uma relação de produção de componentes, senão uma concatenação de processos, onde a concatenação autopoiética de processos numa unidade fisica diferencia as máquinas autopoiéticas de outro tipo de máquinas (alopoiéticas), de tal forma que as máquinas criadas pelo homem possuem processos, mas não processos de produção de componentes, sendo denominadas sistemas dinâmicos não-autopoiéticos, alopoiéticos, enfim.
As diferenças entre máquinas alopoiéticas e autopoiéticas residem no fato de naquelas as relações ocorrem entre componentes, de ocorrerem processos; ao passo que nas máquinas autopoiéticas ocorram relações de produção de componentes e concatenação de processos que são autoprodutores. Neste sentido, Maturana e Garcia (1997, p. 72) definem autopoiese como:

Processos concatenados de uma maneira especifica tal que os processos concatenados produzem os componentes que constituem o sistema e especificam como uma unidade. É por esta razão que podemos dizer que, cada vez que tal organização se concretiza num sistema real, o domínio de deformações que este sistema pode compensar sem perder sua identidade ocorre em um domínio de trocas no qual o sistema, enquanto existe, mantém constante sua organização. É adequado condensar esta descrição dizendo que os sistemas autopoiéticos são sistemas homeostáticos que possuem sua própria organização como a variável mantida constante.


A respeito da Autopoiese Capra vai dizer (1996, p. 99) que

Tendo esclarecido que seu interesse é com a organização, e não com a estrutura, os autores prosseguem então definindo autopoiese, a organização comum a todos os sistemas vivos. Trata-se de uma rede de processos de produção, nos quais a função de cada componente consiste em participar da produção ou da transformação de outros componentes da rede. Desse modo, toda a rede, continuamente, "produz a si mesma". Ela é produzida pelos seus componentes e, por sua vez, produz esses componentes.

E a partir desta definição Maturana e Garcia (1997, p. 72) concluem que: a) sistemas autopoiéticos são autônomos; b) por serem autônomos não podem ser considerados alopoiéticos. Caracterizam-se ainda, por possuírem individualidade, por não possuírem entradas e nem saídas, onde “uma organização pode permanecer constante sendo estática, ou mantendo constante seus componentes, ou também mantendo constantes as relações entre componentes que por outra parte estão em contínuo fluxo e mudança” (MATURANA E GARCIA, 1997, p.74)
Em relação aos sistemas autopoiéticos ou viventes estes, segundo Maturana e Garcia (1997, p. 75) “transformam a matéria neles mesmos de forma que seu produto é sua própria organização”. Para Maturana e Garcia (1997, p. 75) “se um sistema é autopoiético, é vivente.” E ainda, segundo Maturana e Garcia (1997, p. 75) “ a noção de autopoiese é necessária e suficiente para caracterizar a organização dos sistemas vivos”
Para Maturana e Garcia (1997) não é possível criar ou desenhar um sistema vivo por: serem autônomos, impredizíveis, por serem demasiado complexos, por derivar de princípios que ainda não conhecemos, ou por serem estes princípios totalmente incognoscíveis.
Concluindo, autopoiese trata-se do padrão de organização comum a todos os sistemas vivos e se caracteriza-se por: a) uma rede, pela interligação em rede de seus componentes; b) esta rede tem como objetivo criar a si mesma, onde um componente cria a si mesmo determinando toda a rede. Desta forma a rede de componentes é auto-criadora, auto-geradora; c) os componentes estão interligados por laços retroalimentadores. d) da mesma forma, autoreguladora, as variáveis, ou os componentes oscilam dentro de um limite, diz-se que se trata de uma rede homeostática. e) não recorre ao meio para manter sua organização, não se caracteriza, então por ser alopoiética; f) a rede é cooperativa (cooperação); g) tanto maior o número de componentes maior sua flexibilidade, maior seu poder de auto-criação; h) por não ser alopoiética diz-se que se trata de uma rede onde a reciclagem é sua característica principal, isto quer dizer que a rede não elimina dejetos ou capta recursos ao meio. A energia e a matéria circulam indefinidamente no interior do sistema, de tal forma que o volume de resíduos é mínimo, igual a zero. Exemplos de sistemas autopoiéticos podem ser citados, como o sistema nervoso, ao passo que um ecossistema pode oferecer uma noção intuitiva de Autopoiese facilmente possível de ser apreendida. Para tratar da Autopoiese Maturana e Garcia (1997) apresentam o sistema nervoso como tal.

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