quarta-feira, 19 de novembro de 2008

4 TEORIA DAS ESTRUTURAS DISSIPATIVAS ACOPLADA A TEORIA KEYNESIANA



O objetivo do capítulo consiste em apresentar, mediante a Teoria das Estruturas Dissipativas, como o aumento nos volumes de investimento e consumo, estimulados por meio de políticas econômicas expansionistas, altera a estrutura do meio e intensifica os impactos ecológicos.
A dinâmica ocorre e pode ser visualizada por meio da Figura 02, onde, ao tentar manter o padrão de organização do sistema capitalista de elevado consumo, o Governo se utiliza de políticas que levem a esse objetivo, ou seja, de políticas fiscais e monetárias expansionistas. Isto concorre para elevar investimentos e consumo, bem como a captação de recursos naturais e o volume de emissões, de externalidades negativas, de dejetos fora do sistema, no meio-ambiente. Neste caso, cumprem um papel importante variáveis que impactam sobre o meio, políticas de estímulo a demanda agregada, que induzem a aumentos das exportações e aumentos nos investimentos, mantendo, estimulando a extração de recursos naturais e a geração de externalidades negativas.






Figura 02 - DINÂMICA ENTRE SISTEMA ECONÔMICO E MEIO – AMBIENTE – FLUXOGRAMA






Fonte: Elaboração própria

Para elevar o volume de investimentos por meio de uma política fiscal e monetária expansionista, o governo manipula variáveis econômicas tais como, redução na taxa de juros, aumento nos gastos governamentais, redução tarifária, aumento da carga tributária, com intuito de financiar os investimentos estatais, políticas de incentivo à exportação, concessão de créditos, dentre outros. Desta forma, ao exercer política fiscal expansionista, o governo eleva ou cria condições para os aumentos na produção e, por conseguinte, mantém o padrão de organização do sistema capitalista. E, como este ocorre de forma interdependente, complementar e congruente ao meio, eleva a extração de recursos naturais, senão de fontes de sintropia positiva, e aumenta em seu meio-ambiente a desordem, ou seja, o grau de entropia por meio de externalidades negativas.
De outro modo, gera impactos no meio-ambiente por meio de política monetária expansionista ao manipular variáveis tais como, redução na taxa de juros, redução na taxa de redesconto ou comprando títulos. Agindo assim, eleva a Eficiência Marginal do Capital (EMK) frente às taxas de juros no mercado, alterando as expectativas de retorno dos agentes, dos empresários. Isto provoca maior inversão de investimentos, que, por sua vez, tende a elevar a utilização de recursos naturais e a emissão de externalidades.
Logo, ao aplicar uma política econômica de cunho keynesiana com o intuito de conduzir a economia ao nível de pleno emprego, há intensificações no fluxo de matéria e energia circulando dentro do sistema econômico, maior utilização de fontes de sintropia positiva e maior volume de emissões de poluentes.
De acordo com o conceito de derivação estrutural ou acoplamento estrutural[1] levantado por Maturana e Garcia (1997), alterações no sistema capitalista geram alterações estruturais no meio ambiente, que, por sua vez, decorrentes das alterações no meio-ambiente, geram alterações no sistema econômico. Este fenômeno ocorre devido a relações recorrentes entre sistema capitalista e meio, por aquele ser dependente deste para manter seu padrão de organização. Alterações nos processos de consumo e produção geram alterações no meio-ambiente devido a intensificação na utilização de recursos, gerando impactos ecológicos. Tais impactos se dão sobre o sistema econômico na forma de uma economia com tendências inflacionárias e com aumentos na demanda por bens públicos, geradas por redução na qualidade de alimentos, endemias, etc.
De acordo com o gráfico 02, para cada nível de produto ou para cada ponto de equilíbrio entre as curvas de demanda agregada e oferta agregada há um nível correspondente de externalidades, de tal forma que os níveis de externalidades são elevados toda vez que o crescimento econômico é expandido. Sendo assim, conclui-se que a busca pelo pleno emprego dos fatores de produção intensifica ou eleva as externalidades negativas ou impactos ecológicos.


Gráfico 02 - Interdependência Dinâmica Entre Sistema Econômico e Meio

Fonte: Elaboração Própria. Adaptado de Dornbusch e Fischer; CERQUEIRA UFMG (2000, p.17)

Mediante a teoria das estruturas dissipativas, num primeiro momento, representado pelo intervalo que vai de E1 a E2, tais impactos seriam minimizados pela capacidade de auto-organização do meio. Este primeiro momento é considerado como um estado de entropia mínima e neste estágio a capacidade de auto-organização do meio-ambiente ocorre proporcionalmente às variações nos níveis de externalidades, em conformidade com o fluxo de matéria e energia processado no interior do sistema econômico, bem como de emissões. Ou seja, o meio processa as externalidades emitidas pela expansão da economia de tal forma que o dano é mínimo.
Entretanto, a busca contínua pelo pleno emprego dos fatores de produção, representada nos gráficos 02 pelas variações no produto de Y1 para Y2 tende a conduzir as externalidades geradas pelo sistema a um ponto crítico (Z)[1]. A partir deste segundo momento, devido a laços de retro-alimentação, tais externalidades se tornariam auto-produtoras. Quer dizer que, estas passariam a autogerar-se, não apenas em função da atividade industrial, mas inclusive, das externalidades de um período anterior. Neste estágio, a partir do ponto crítico onde os níveis de investimentos igualariam e posteriormente se fariam maiores que a capacidade de auto-organização da terra, conduziria as interações entre sistema e meio a uma nova forma de organização, passando de um estágio de entropia mínima para um estágio de elevada desordem.
Em outros termos, neste estágio com o multiplicador de gastos keynesiano (k) e uma variação nos níveis de investimentos (AI) poderá ocorrer um volume (1+x) de externalidades. Isso se torna possível devido aos laços de amplificação que é característica de toda estrutura dissipativa, de todo sistema aberto encontrado na natureza. Não é possível definir o novo nível de externalidades, pois, a partir do ponto crítico (Z), devido aos laços de amplificação e retro-alimentação, o sistema se torna altamente não-linear, impossibilitando qualquer previsão que não seja num curto espaço de tempo.
Ademais, o processo é irreversível, significando que, mesmo mantendo os níveis de investimentos estáveis, os laços de amplificação não se estabilizarão. Neste sentido, os efeitos entrópicos da atividade econômica num determinado momento (t) dependerão das ações, das atividades ocorridas num período anterior (t-1), da história do sistema e das condições iniciais.
Sendo assim, conclui-se que as ciências econômicas, ao terem em suas bases modelos de crescimento econômico centrados na ênfase conferida a aumentos de investimentos e consumo, terão uma tendência de impactar de forma deletéria sobre os ecossistemas. Esta mudança estrutural no meio ambiente, devido a alterações nos processos econômicos, gera, de forma retroativa e reiterada, um feixe de impactos no sistema econômico, tais como aumento na demanda por bens públicos, inflação de custos.
No próximo capítulo será apresentada a teoria elaborada por Maturana e Garcia (1997) denominada Autopoiese. De acordo com Capra (1982) Autopoiesis trata-se de um helenismo, onde “auto”, significa “si mesmo” e “poiesis” significa produção, sendo assim autopoiese significa autoprodução ou autocriação. Suas características são as de apresentar um processo circular fechado, é tida como uma rede de componentes que se autoproduz. Seus componentes são autônomos e produzem a si mesmos, produzindo desta forma toda a rede, todo o sistema. E como se trata de um processo de causação circular, seus componentes são produtos. Desta forma, sistemas autopoiéticos são aqueles que possuem a capacidade de construírem a si próprios e a esta classe de sistemas pertencem os seres vivos.
Entretanto não será objeto do próximo capítulo um tratamento detido a respeito da Autopoiese, em toda sua complexidade. Mas somente apresentar ou salientar características relacionadas a Autopoiese que sirvam como referencial ao conceito de sustentabilidade no âmbito das ciências econômicas, ou ainda como referencial ao tratamento de sustentabilidade no sistema capitalista. Sendo assim, ficam eliminados o tratamento referentes à materializações da Autopoiese, diversidade da Autopoiese (reprodução, evolução, implicações gnoseológicas), etc.

[1] Segundo Capra (1996) matematicamente, um ponto crítico representa uma dramática mudança da trajetória do sistema no espaço de fase. Um novo atrator pode aparecer subitamente, de modo que o comportamento do sistema como um todo "se bifurca", ou se ramifica, numa nova direção. Ao tratar das mudanças climáticas para o Greenpeace (2007), o ponto crítico se situaria a um aquecimento de 2º C aos níveis pré-industriais.

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