quarta-feira, 19 de novembro de 2008

3.1 O Sistema Capitalista

Não apenas os organismos vivos, mas sistemas sociais e sub-sistemas sociais podem ser descritos pela teoria das estruturas dissipativas. No caso, uma economia capitalista possui características próprias a serem descritas pela referida teoria, sendo a primeira o fato de estar aberta a um contínuo fluxo de matéria e energia oriundos de fontes de sintropia positiva como meio de manter seu padrão de organização. Quer dizer, uma economia capitalista para manter seus processos de produção, consumo e geração de lucros recorre ao meio ambiente de onde são extraídos os recursos e energia para efetuá-los, significando que possui uma entrada e uma saída.
A segunda característica decorrente do fato de estar aberta aos fluxos de matéria e energia, significa que elimina resíduos destes recursos processados, elimina dejetos, externalidades negativas em seu ambiente, concorrendo para elevar a entropia, a desordem, enfim possui uma saída. Em seu interior, apresenta um padrão de organização, seja ele de maximização de consumo, investimento ou de crescimento econômico, que é o próprio padrão de organização das economias capitalistas, onde uma parte dos recursos captados é deixada dentro do sistema.
Desta forma, as alterações no interior do sistema capitalista, mais precisamente alterações em seus processos de consumo e produção, geram, consequentemente, alterações na estrutura do meio-ambiente, devido à existência de uma interdependência dinâmica entre sistema e meio-ambiente. Essa interdependência pode ser claramente visualizada por meio do conceito de derivação, ou acoplamento estrutural, onde,

Dado o determinismo estrutural, uma vez que um sistema surge, seu acontecer consiste necessariamente numa história de interações recorrentes com os elementos de um meio que surgem com ele e o contém. Além disso, tal história de interações recorrentes entre o sistema e o meio transcorre necessariamente como uma derivação estrutural. Isto é, tanto a estrutura do sistema quanto à estrutura do meio mudam necessariamente e de maneira espontânea de um modo congruente e complementar enquanto o sistema conserva sua organização e coerência operacional com o meio que lhe permite conservar sua organização. Isso acontece numa dinâmica de complementariedade operacional na qual um observador vê o sistema deslocar-se no meio seguindo o único curso que pode seguir na conservação de sua organização, num processo no qual as estruturas do sistema e do meio mudam conjuntamente de maneira congruente até que o sistema se desintegra. (MATURANA E GARCIA, 1997, p. 30)


De tal forma que, à medida que se intensifica o fluxo de matéria e energia no interior do sistema, ocorre o surgimento de novos padrões de consumo. A ordem dentro do sistema, a manutenção da organização ocorre mediante a substituição de baixa entropia na natureza pela emergência de desordem, de elevada entropia.
Se a Teoria das Estruturas Dissipativas trata de fenômenos distantes do equilíbrio, apresentando o surgimento de ordem em meio à desordem, esta pode servir para descrever sistemas econômicos, bem como o sistema capitalista como apresentando ordem (crescimento econômico, novos níveis de consumo) em meio à desordem crescente (impactos ecológicos).
Os impactos ecológicos gerados pela atividade econômica são mais facilmente compreendidos ao visualizar o Sistema Capitalista como um sistema aberto. Na próxima seção, a Teoria das Estruturas Dissipativas será acoplada aos princípios da teoria keynesiana com o objetivo de demonstrar como a intensificação nos processos de consumo e investimento alteram a estrutura do meio, gerando impactos ecológicos. E, por sua vez, como tais impactos provocam alterações no sistema econômico, gerando uma economia com tendências inflacionárias e aumentos pela demanda por bens públicos. Nestes termos, a política econômica funciona como um determinismo estrutural enquanto processo que define e redefine a estrutura do sistema capitalista como deletéria, o que, por sua vez, determina, de forma congruente e complementar, a estrutura do meio, alterando-a.

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